Top Social

Conversa de Ivair Reinaldim com Daniela Seixas






















Ivair: Ao mesmo tempo em que a aparência das obras expostas parece sugerir uma apreensão de simplicidade de gestos e associação direta entre seus elementos, a experiência sensível das mesmas reforça a ação exaustiva e também a delicadeza de procedimentos que lhes deram origem. Como essas "tarefas rarefeitas" se materializam e são incorporadas em seu processo? Tanto a relação com a linguagem quanto a prática do desenho parecem nortear sua produção como um todo. De que modo estas duas instâncias, escrita e desenho, tornam-se importantes em seu processo de trabalho?


Daniela: Posso dizer que essas tarefas “impossíveis” são o próprio processo, por isso acabei resolvendo por fim acolher a exposição no nome Tarefas rarefeitas.

A exaustão vem junto com a tentativa e a impossibilidade. A impotência para mim é bonita e sutil. É sobre minha escala diante da noite, do deserto imaginado, de um pequeno inseto ou de uma folha de papel.

O peso de uma nuvem de pedra cabe na palma da mão (trabalho Precipitação). Por isso importam essas incoerências soltas pelo mundo, quase bobas. O disfarce das palavras, das atmosferas entre eles e também o ato de desenhar. O desenho que anda por aí é como o ímã de tudo, da vibração dos poros e das impotências inúteis: como a de não ser capaz de ultrapassar um papel, chover pelos poros ou inverter a gravidade de uma palavra.

Chamo de tarefas pois são uma incumbência de “tomar conta do mundo” e isso pode ser exaustivo. E a partir de então qualquer evento passa a ser igualmente importante, uma formiga atropelada ou uma tempestade solar ou uma palavra que não cabe em si. Parece obvio, mas a escala dos acontecimentos pode se modificar a todo instante e surpreender.

Gosto de pensar na ideia de discreta vigília, pois é uma ação frágil e radical. É bem provável que esse seja o procedimento importante. A materialidade é essa sensação, passando por articulações muito próximas entre a necessidade de desenhar e escrever.

Cada um dos trabalhos é uma tentativa de devolver a provocação do silêncio das palavras e do pensamento-desenho, que logo passa e por isso mesmo continua e continua de diferentes maneiras.