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2011 | Com quem você tem bordado? - Texto crítico de Humberto Farias

Com quem você tem bordado?
Humberto Farias


Rodrigo Mogiz nos mostra, em sua individual, uma série de trabalhos que discutem tradição, memória e relações cotidianas. O bordado é a sua investigação, é a memória de um fazer artesanal e familiar, de sua relação com o teatro e a música, com a moda e com seus devaneios. Narrativas de situações possíveis e certas vezes oníricas. Histórias vividas e idealizadas.

O artista trabalha com o repertório do fruidor, utilizando objetos que fazem parte do dia a dia das pessoas, como tecidos bordados e almofadas. Ele produz esses objetos e retira sua funcionalidade examinando e recolocando, dentro de estratégias artísticas, o lugar por eles ocupado. E qual seria esse lugar? O lugar onde fantasias e desejos se encontram?

Procedimentos e tradição são ferramentas utilizadas nas narrativas do artista. Podemos verificar, na construção do desenho/bordado, sutilezas de composição sobrepostas de maneira a construir uma espacialidade no campo da representação. As velaturas, as aguadas e as formas difusas remontam à construção da pintura clássica por intermédio da espacialidade que nos é apresentada. Porém, de forma ambígua, Mogiz evidencia a materialidade dos suportes empregados: expõe a linha de costura, as entretelas e uma variedade de pequenos objetos apropriados que ornamentam suas obras. A gravata de uma personagem, a fruta desejada, as flores, corações, coroas e botões são reais e não mais representados, como na pintura ou no desenho. A apreciação das obras do artista possibilita experienciar concretamente o que Catherine Millet apontou com relação à arte contemporânea: o objeto apresentado pelo artista não é mais a sua representação desenhada, é ele sendo ele mesmo.

“Com quem você tem bordado?” é um convite a experimentar visualmente esse universo habitado por histórias possíveis e idealizadas, poesia, prazer e dor, universo que, para Rodrigo Mogiz, se complementa com a inclusão do outro.